Nobel da Paz para dissidente chinês Liu Xiaobo

 

O dissidente chinês Liu Xiaobo, de 54 anos, foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz. Xiaobo, um activista a favor da democratização no seu país, encontra-se a cumprir uma pena de prisão, por ter sido um dos autores de um manifesto, em 2008, a favor da liberdade de expressão e de eleições multipartidárias.

A sua detenção aconteceu em Dezembro desse ano. Um ano depois, o conhecido manifesto Carta 08 valeu-lhe uma condenação de 11 anos.

Em tribunal, antigo professor de literatura foi acusado de «incitar a subversão do poder do Estado», por causa deste e de outros documentos. De acordo com a agência Reuters, os seus advogados tiveram apenas 14 minutos para exercer a sua defesa e Liu não pode responder em tribunal à sua condenação. 

A detenção de Xiaobo foi fortemente contestada pela comunidade internacional. Tanto os EUA como a UE pediram para assistir ao julgamento do activista, o que lhes foi negado.

Depois de ter começado a cumprir pena, foram feitos vários pedidos a Pequim para que fosse libertado. As recusas do regime chinês têm sido sempre acompanhadas por uma manifestação de repúdio pelo que diz serem tentativas «inaceitáveis» de ingerência nos seus assuntos internos.

Problemas desde Tiananmen

Contudo, a pena que o homem escolhido pelo comité norueguês está a cumprir não é a primeira. O activismo e os problemas de Liu Xiaobo com o regime chinês começaram muito antes.

Durante os protestos da praça Tiananmen, em 1989, tornou-se conhecido com um dos líderes da greve. Esteve na prisão durante 20 meses. Depois disso, foi ainda condenado a uma pena de prisão de três anos, que cumpriu num campo de trabalho e reeducação, durante a década de 1990. No currículo de Liu Xiaobo constam ainda vários meses de prisão domiciliária.

A Carta 08 trata-se de um manifesto inspirado na Carta 77, um documento de 1977 que foi marcante na luta por mais direitos na Checoslováquia sob domínio comunista.

Liu foi um dos organizadores deste conjunto de apelos a Pequim, com vista a uma maior democratização do regime. Entre os signatários encontram-se diversos intelectuais e activistas.

O comité norueguês responsável pela escolha elogiou «a longa e não violenta luta por direitos fundamentais na China» por parte de Xiaobo.

De acordo com Thorbjoern Jagland, presidente desta entidade, «o comité acredita há muito que há uma relação próxima entre direitos humanos e a paz».

Jagland assinalou ainda que a China, à medida que ganha cada vez mais proeminência no contexto internacional como potência, deve esperar um escrutínio mais apertado sobre o tema dos direitos fundamentais dos seus cidadãos.

«Temos de falar quando outros não o podem fazer», disse o presidente do comité aos jornalistas, segundo cita a agência Reuters.

Pequim e Oslo reagem

A China também já reagiu, mostrando desagrado com a decisão do comité norueguês. Para Pequim a entrega do prémio a Xiaobo trata-se de uma «obscenidade».

A Noruega, que está nesta altura a negociar um acordo comercial com a China, salientou que o comité do Nobel não se trata de uma entidade governamental e que por isso a sua decisão não deve suscitar qualquer hostilidade por parte de Pequim em relaçao a Oslo.